Date Sat, 12 Mar 2011 12:35:27 +0100
Em 7 de março, a ZSP-AIT, federação anarcossindicalista polonesa,
descobriu que uma dos membros mais ativos do movimento por moradia,
Jolanta Brzeska, foi encontrada morta em um bosque. Seu corpo tinha sido
queimado e ficado irreconhecível. Jolanta foi queimada viva.
Jola tinha 64 anos de idade. Ela foi umas das fundadoras da Associação de
Moradoras(es) de Varsóvia, uma boa palestrante e uma ativista comprometida
que ia a todas as manifestações, que impedia despejos e aconselhava
outros(as) inquilinos(as). Ela estava envolvida em uma batalha com o mais
notório senhorio de Varsóvia, Marek Mossokowski, e era a última inquilina
restante de um imóvel valioso no momento de sua morte.
Jola vivia em um prédio que tinha sido moradia pública mas que foi
privatizado. A área em que ela vivia era atraente para empresários, que
construíram uma luxuosa moradia ao lado de seu prédio, onde os
apartamentos custam 5.000 euros por metro quadrado. Sua provação começou
em 27 de abril de 2006, quando um grupo de 10 pessoas bateu em sua porta.
Foi assim que ela descobriu como seu apartamento, que era moradia pública,
tinha caído em mãos privadas.
Este tipo de notícia chocante foi recebida por milhares de pessoas em
Varsóvia já que é a política da cidade não informar à(ao) inquilina(o)
quando compram a escritura de sua casa ou até mesmo informar que ela foi
privatizada. Muitas pessoas, se não a maioria, fica sabendo disso depois
do ocorrido[1].
Entre as pessoas deste grupo estava Marek Mossakowski, um empresário tão
notório que até mesmo os arquitetos neoliberais da privatização o
condenam. O passatempo de Mossakowski é comprar escrituras de imóveis. Há
alguns anos atrás, era bastante difícil para pessoas que tinham casas
antes da guerra ou suas descendentes retomarem a propriedade que foi
comunalizada depois da guerra. É por isso que algumas pessoas com
escrituras que não têm valor legal as estavam vendendo. Mossakowski é
conhecido por ter comprado escrituras imobiliárias por 50 zloty (12,50
euros) de propriedades pelas quais mais tarde ele tentou conseguir 1,25
milhões de euros[2]. Ele adquiriu escrituras de muitas propriedades sob
circunstâncias obscuras[3].
Este especulador é conhecido por suas táticas inescrupulosas para retirar
as pessoas de seus apartamentos. Se elas não se assustarem com suas
tentativas iniciais, frequentemente ilegais, de impor aluguéis gigantescos
e "taxas" a elas, outros métodos têm início. No caso da casa de Jola,
alguns dias depois desta visita inicial, as(os) moradoras(es) receberam
uma carta. Nela ele alegava que, como a propriedade foi transferida,
todas(os) eram habitantes "ilegais" do prédio. (Esta foi uma violação
direta da lei que diz que, se ele quer chutar alguém para fora, teria que
dar um aviso prévio de 3 anos, ou lhe dar uma moradia substituta). Já que
ele considerava que estavam lá "ilegalmente", ele exigia que pagassem
"danos" adicionais a ele, totalizando quase 500 euros por mês.
Jola sabia que isso era ilegal e se recusou a pagar. Como muitas pessoas
em sua situação, seu aluguel agora era muito maior que sua renda. (Mais
recentemente, ela recebia por volta de 350 euros por mês). Foi então que
todo tipo de assédio começou. Mossakowski até tentou invadir sua casa e
registrá-la como sendo o seu local de moradia.
Diferentemente de Jola, que não conseguiu um apartamento substituto da
prefeitura, o milionário Mossakowski, dono de imóveis por todo o
município, é inquilino de uma moradia municipal. (Ninguém sabe se ele
realmente mora lá, mas ele tem o apartamento).
Apesar da prefeitura estar privatizando a moradia, ela raramente provém
os(as) antigos(as) moradores(as) com apartamentos substitutos. (No ano
passado, foram distribuídos apenas 90). Quando as pessoas estão em tal
situação, a cidade olha para a sua renda e, como os critérios são baixos
demais, muitas pessoas, mesmo aposentadas, não podem receber moradia
pública. Os burocratas encarregados de destruírem o sistema de moradia
pública procuram por qualquer razão para negar moradia, frequentemente
quebrando todas as regras. No caso de Jola, lhe negaram o direito porque
sua filha tinha um apartamento. Apesar disto não dever ter nenhuma
influência, nós sabemos que a prefeitura às vezes diz para as pessoas que
perderam seus apartamentos e se inscreveram para receber um substituto que
elas podem viver com parentes - mesmo sendo em outras cidades.
Jola estava enfurecida com sua situação e decidiu contra-atacar. No
movimento por moradia, ela lutou por uma mudança nessa política, para que
outras pessoas não tivessem que passar pelo que ela estava passando.
Apesar do fato de seu caso ainda estar em julgamento, Mossakowski disse a
ela lhe devia mais de 20.000 euros. No momento de sua morte, ela era a
última inquilina remanescente naquela casa.
A filha de Jola relatou que ela tinha desaparecido em circunstâncias muito
misteriosas. Depois de alguns dias lhe disseram que um corpo queimado foi
encontrado no bosque na mesma data que Jola desapareceu. Ele estava
irreconhecível, mas alguns objetos que ela tinha consigo não tinham sido
destruídos, incluindo as chaves de sua casa, seus óculos e seu aparelho
para surdez.
Ninguém sabe ao certo se a polícia tem interesse em investigar este caso.
Apesar de tudo indicar que Jola foi assassinada de uma maneira incomumente
brutal, a polícia tentou apresentar "teorias alternativas" como suicídio
ou que talvez Jola fosse "membro de um culto". Não está claro se há algum
motivo especial para estarem gerando estas "teorias alternativas".
Uma coisa é certa: as pessoas envolvidas no movimento por moradia culpam a
situação da má política de moradia que deixa inquilinas(os) à mercê de
especuladores e empresários inescrupulosos. Nós juramos não esquecer a
provação de Jola e sua contribuição à luta que continuaremos com mais
determinação do que nunca. Não perdoaremos, não esqueceremos!
ZSP-AIT Varsóvia
[1] É por isso que nós conseguimos e publicamos documentação compilada
pela prefeitura e notificamos e reunimos aquelas(es) que podem ser
afetadas(os).
[2] Veja:
http://warszawa.gazeta.pl/warszawa/1,34889,7958665,Mial_tylko_50_zl__teraz_ma_kamienice.html#ixzz1G1OpNKlu
[3] Nós conseguimos pela primeira vez em Varsóvia bloquear uma tentiva
ilegal de privatização. Mossakowski também esteve envolvido nessa estória.
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